Wednesday, March 08, 2006

Queria escrever sobre umas dores e uns amores

Passaram-se muitos meses desde que eu desisti de amar, para tentar viver algo novo, mais livre e sem tantas preocupações e sofrimento.
Não sei muito bem por onde começar. Eu sempre vivi uma vida de paixões, de avassaladoras invasões do outro dentro de mim, mesmo que platonicamente. Muitas vezes eu passei muitos meses chorando e imaginando como seria maravilhoso ser amada de volta por alguma das pessoas que eu “escolhia” na minha cabeça pra dedicar meus pensamentos, meus sonhos e minha imaginação.
Uma ou outra vez, aquilo que eu sonhava chegou a se tornar realidade, mas sempre com tantas dificuldades que acabavam não dando muito certo, sendo coisas curtas, ou muito desgastantes, ou mais fonte de sofrimento do que de felicidade.
Há cerca de um ano pus “fim” a uma dessas histórias. Uma das mais sofridas e uma das minhas maiores vitórias, ao mesmo tempo. Foi depois dessa vez que comecei uma empreitada de aventuras mal sucedidas. A partir delas, me machuquei muitas vezes. Chorei, compus canções, sofri, me iludi e no meio dessa longa jornada, acabei tendo a idéia de tentar parar de me envolver com as pessoas. Parar de me apaixonar perdidamente e de colocar as pessoas no que chamo de buraco interno (que é a falta, a falta psicanalítica de que tanto falamos em psicanálise).
Antes disso, durante minha superação possível daquela história, tão longa, tão intensa, tão complexa, as paixonites me ajudaram. Ajudaram a conseguir ver sentido em outras coisas, a conseguir colocar o foco em outros lugares para sair do lugar. Ao mesmo tempo, as mesmas paixonites, me colocaram frente a frente com a dureza dos fatos, com a falta de comprometimento das pessoas umas com as outras, com a realidade prolixa e prolífera das pessoas (que nem sempre são promíscuas, apesar da grande quantidade de pessoas com quem se relacionam) que vão caçando bocas e corpos e pequeninas esperanças a que não se dão ao direito de agarrarem por medo.
A caça, por si mesma, acaba inutilizada. O prazer imediato vira um nada. A satisfação da pura curiosidade é alcançada. O ego é massageado ao perceber o volume do desejo alheio. E a vida continua sem atrelarem-se muito os laços, mas também sem desafrochá-los totalmente.
Não sei como eu acabei entendendo como as coisas funcionavam. No começo não entendia, apenas sentia e morria um pouco por dentro a cada vez. Depois, muito sutilmente, eu também acabei enrijecendo. Claro que muito menos do que eu precisaria pra me defender desse jorro de matéria “apaixonável” que sai de dentro do meu peito, mas um pouco que possibilitava às pessoas verem em mim alguém não muito ameaçador.
“Ameaçador”, no termo que uso agora é alguém que se apaixona. Quem se apaixona, hoje em dia, é sinônimo de problema. Por isso já perdi uma ou outra oportunidade: “ melhor não, você se apaixona...” ou ainda, “não, não, você tem sentimentos...”. Engraçado. Achei que todo mundo tivesse sentimentos. Parece que não.
Enfim. Depois, acabei atingindo um patamar mais aceitável de não-paixão. Aquilo que em mim é o mais vivo e mais espontâneo estava agora domado, ferido, machucado e enjaulado. Preso mesmo, com medo de sair e de ser, de novo, apedrejado.
Agora, apesar de muito mais “em voga” e mais defendida, as coisas pararam de fazer sentido pra mim. As pessoas são pessoas. Não são mais seres louváveis, lindos e apaixonantes (Deus que me livre!). São apenas pessoas comuns, com quem posso passar tempo, posso trocar carinho (não muito, ou pelo menos não muito entregue), mas com quem já vou parar de sair, já vou parar de querer, já vou parar de ter vontade de estar perto.
Por que ficar perto demais é muito perigoso.
Sendo assim, o clima agora é um belo “tanto-faz”. Um dos maiores “tanto-fazes” de toda a minha vida. Maior do que nas férias de julho de criança, maiores do que no carnaval em São Paulo quando todos os amigos foram viajar e você não, maiores do que quando se ganha na loteria e não precisa-se mais trabalhar (e nem fazer mais nada).
Não tenho nenhuma perspectiva de me apaixonar de novo. Dizem por aí que é uma fase, que logo que eu encontrar alguém que me desperte algo vou sentir tudo de novo. Outros dizem que eu estou errada de entrar nessa “vibe”. Que não é nada bom ficar sentido isso e que eu devia voltar a me abrir para as pessoas. Eu já não sei. Não sei o que é melhor pra mim. Se que estou num mecanicismo louco.
Aceito os afetos. Eu os quero. Eles me afetam. Mas não estou conseguindo fazer nada com essa afetação. Nada. Tudo vira nada. Por que eu aprendi a fazer isso. E odeio.
Engraçado como antes, sempre que eu podia pedir alguma coisa (no bolo de aniversário, nas brincadeiras infantis que a gente carrega pra vida adulta), eu pedia pra ser feliz. Sempre. Dessa vez, na virada do ano (e até um pouco antes, por causa da dor), eu tenho pedido pra parar de sofrer tanto sempre. Errado, não? Eu acho.

1 comment:

Anonymous said...

Eu tb... tudo...
Desejo ser feliz, mas se puder parar de sofrer um pouco já é o bastante...
Adoro seu jeito de escrever, e de sentir, e de ser.
Sou sua fã...